Quantcast
Channel: Cultura – Modices
Viewing all articles
Browse latest Browse all 122

Quatro cartas de amor para inspirar o Dia dos Namorados

$
0
0

Faltando um pouco mais de uma semana para o dia dos namorados, é impossível fugir do assunto – conquistar novos e antigos amores. Por isso, aqui vão quatro cartas de amor, de gente de verdade pra gente de verdade, pra te inspirar.

Mesmo que as cartas de amor tenham virado emails de amor (ou talvez mensagens de texto de amor), elas ainda são uma das maneiras mais valiosas de expressar tudo aquilo que a gente tá sentindo e nem sabe como. Por isso, junto com a nossa amada @agogowriters, selecionamos quatro cartas de amor, produzidas por alunos que tinham muito o que dizer à pessoa amada (ou desamada).

Já pensou em colocar no papel tudo o que você sente ou sentiu por alguém? A gente espera que essas cartas de amor te inspirem ou pelo menos acalentem seu coração essa semana.

carta 1 | Carol Delgado

Arte por Jamilla Okubo

Hey Thundercat,

Tô naquela fase da lua que você transborda aqui dentro e espero que o correio aí de cima não se importe com a demanda causada por esses dias que, no fundo, são como aquele que eu gritei no meio da rua: “então porque você não fica comigo, cacete?”. E agora queria te contar que consigo falar sobre um dia desses que eu inundei tudo.

A última vez, eu lembro como foi. Uma daquelas coisas dia de semana na quadra do Salgueiro. Não sei se era verão, provável que sim. A gente tinha essa coisa de ser quente. O que eu não gosto de pensar sobre ter sido no verão a última vez, é que eu faço a conta de quanto eu te amo não disse até dia 21 de julho. Foi outono, definitivamente.A gente não ficava assim tanto tempo longe. E essa não foi bem a última vez porque depois teve dois campeonatos. Foi a última vez de noite. Não, teve aquele forró. Tá, sei lá porque eu chamo ela de última vez.

Fomos parar na casa de um amigo e essa última vez inventada foi a primeira vez que você tirou a minha roupa toda. Minhas pernas tremiam, eu queria respirar todo o ar que circulava naquele banheiro e guardar numa caixinha inquebrável. Cada um dos pelos do meu corpo, se arrepiou. E quando eu abri os olhos, me vi inteira no reflexo dos teus. Os teus olhos. A parte do teu corpo que justificava minha existência na Terra. E eu tava lá. Nua. Em todo o resto de vida que aconteceu até agora, nada foi parecido com o que eu senti naquela noite. Você me abraçou daquele jeito que junto com o braço esquerdo envolvendo a cintura a sua boca vinha direto na orelha direita encostava bem devagar cada pedacinho do lábio e sussurrava. E era sempre uma coisa sobre o desejo de que o tempo congelasse. Ou que o universo cuidasse do que a gente não conseguia cuidar. Que fosse pra sempre. E naquela noite você disse uma coisa diferente: “você é linda”.

E aí, se teve um dia nesse rolé pelo mundão que eu acreditei nisso, foi nos 3 segundos que duraram essa frase. Eu só conseguia sentir vontade de voar. E toda vez que eu tinha noção do tamanho daquela parte do teu corpo que era suas costas, seus braços e seu pescoço, era como se nada mais no universo pudesse me machucar. Era como chegar em casa.

E fui dissolvendo no teu abraço e beijando seu pescoço e deixando minhas mãos se perderem mesmo assim, tão trêmulas. E pedindo que aquela noite nunca mais acabasse. E dizendo eu te amo. Como eu te amo, cara. Tudo que eu inventei sobre o amor é teu. Tudo sobre mergulhar sem saber nadar, também. E muitas vezes a maré me engole. E o nome desse maremoto é a falta que tu faz na vida que insistiu em continuar depois que você não continuou, moleque.

Porque tem dias, como hoje, que eu só queria ver você descendo a escadinha da academia meio fingindo que a gente nem tava nem aí e de repente falando pra galera: “vou deixar a Carol em casa que tá tarde”, e eu abria aquele sorriso bobo de criança que vê o mar pela primeira vez e puxava a manga do moletom de nervoso e tentava, em vão, dar um jeitinho no descabelamento. Continua segurando a minha mão, cara, porque até hoje eu não perdi a mania de voltar pra casa assim tão tarde.

Rio de Janeiro, 12/06/2015 (ou décimo quarto dia dos namorados sem ti)

carta 2 | Karina de Pino

arte por carolina búzio

Juan.

A gente não tem uma música. Nós temos um armário, uns livros, uns discos, umas fotos, um quadro e uma garrafa de Mezcal. Mas não temos uma música.

Eu tenho uma parte do corpo com seu nome e você tem a marca das minhas unhas nas suas costas. Temos um carnaval e já dividimos alguns amigos. Eu tenho um jeito de te fazer parar de roncar e você tem um pé gelado que se esquenta no meu. Eu tenho a sua mão grudada na minha e você tem a cabeça aconchegada no meu ombro. Você tem a grosseria espanhola e eu tenho o drama latino, então é bem verdade que temos muitas brigas e gritos, nessa loucura divina que inventamos de criar a intimidade de uma vida inteira em alguns poucos dias.

Temos também a certeza do inevitável. Do dia que respondi sua mensagem e da noite que, com o sol já nascendo, te encarei na porta do banheiro. Feliz que você entendeu o que meus olhos queriam dizer e me beijou. E respirou aliviado enquanto eu sorria. Feliz que, apesar do medo e da culpa, eu larguei a festa no meio, pois a multidão do bar não fazia mais sentido, eu queria apenas estar nos seus braços. Feliz que, apesar da imensa distância entre 2009 e 2014, a gente nunca de fato se perdeu no mundo, mas também nunca ficou próximo o suficiente para desencantar.

Temos então todas essas certezas de uma costura maior traçando nossos caminhos com o objetivo de nos juntar aqui, agora, na hora certa. Temos um réveillon com uvas lavadas e tiradas de seus caules para serem devoradas, uma a uma, olho no olho, em um punhado de doze pedidos-juras-desejos-metas para 2015. Tenho suas mãos nas minhas costas me conduzindo pelo salão no ritmo da salsa.

E, claro, nós sempre teremos o vento de Paracas e o cheiro de livro amarelado das ruas de Lima. E daqui a 5 dias teremos as gargalhadas do meu portunhol com você me apresentando a cidade que chama de casa. Você me deu um anel e uma mesinha de cabeceira. E eu trouxe a Madalena. Me perguntam sobre essa coragem de largar cidade, amigos, casa e emprego para seguir no mundo contigo. Eu respondo que amor é troço difícil demais de se achar. E que finalmente eu encontrei o meu. Temos isso também, um ao outro, para sempre, como quando você me disse “vem” e eu mergulhei. Já temos 5 meses juntos e apesar do tudo que temos, ainda não temos uma música. Então, meu amor, essa carta de dia dos namorados é para te pedir mais um presente, além das flores e dos livros. Uma música. Vamos achar nossa música?

Besos de su amorcito, Karina.

carta 3 | Marilia Pozzobom

arte por Federica Bordoni

Todas as minhas cartas de amor foram escritas pra ti. Aliás, nem sei como é escrever para outra pessoa. Com o passar do tempo eu percebi que muito mais do que meu amor, tu era meu muso. Tu virou a inspiração de tudo que eu escrevo sobre amor. Hoje, anos depois de ter te conhecido, eu ainda te uso pra tentar entender todos os amores de todos os personagens que eu escrevo. Os que amam um amor duradouro foram inspirado nos dias que a gente passou juntos. Quando só existiam sorrisos, brisa morna, eu e tu. Mas o teu amor inspirou um número massivo de personagens que sofrem. Esses sim eu consigo entender com veracidade – e passar esse sentimento pro papel. Dia desses eu fui dar uma olhada na tua vida, em como ela anda. Eu não te vejo mais há tanto tempo, meu amor (vou me dar a liberdade de te chamar assim aqui).

Eu vi que tu tem uma pessoa nova. E agora eu me vi feliz por ti. Existiu um tempo que eu era feliz no mundo só pelo simples fato de saber que tu existia. Em saber que a qualquer momento eu podia esbarrar em ti e aí a gente ia lembrar que se amou e aí a gente ia voltar pra um novo romance de 12 horas. Dessa vez não foi assim. Dessa vez eu percebi que eu estava feliz simplesmente de te ver feliz. Te vi sorrindo com ela de uma forma tão genuína. Tu tinha um brilho nos teus olhos que eu via mais brilhante segundos antes de te beijar pela primeira vez. Tuas sobrancelhas carregavam a esperança de um futuro inteiro, e era impossível não sorrir junto contigo.

E ela, ela era linda. Ela era pequena, miúda. Deu vontade de cuidar dela. E ela me pareceu tão frágil, delicada, que eu pensei que tudo que tu podia fazer era amar aquela pessoa preciosa com todo o amor que eu sei que tu tem dentro de ti e simplesmente deixar que ela te ame também. Ela tem cara de quem tem bom coração. Tu achou, finalmente, uma mulher pra ti meu amor. E aí eu entendi que simplesmente não era pra ser. Que algumas histórias de amor, como a nossa, são contos. Outras são romances inteiros.

Eu vou – e aqui eu juro –  te amar pra sempre. Mas não vai ser sofrido pra sempre. Porque a tua lembrança não me dói mais, mas me traz alegrias imensas de um sentimento maior ainda que eu vivi na maior intensidade. Nós não vamos casar, é bem provável.  Eu não vou ver teus olhos na Antônia, nem teus cabelos no Domênico – aliás, esses são os nomes que eu dei pros nossos filhos. Mas eu acho que eles vão combinar com os olhos dela, essa nova pessoa que eu vi que te faz feliz.

Eu te conheci há 1825 dias. E te amei em cada um deles, desde que os teus olhos cruzaram com os meus. Eu te levei em todas as viagens que eu fiz. Eu te imaginei comigo em todos os casamentos que eu fui. Tu era sempre o ar quente que me envolvia. Aquele amor era tão grande em mim que me satisfazia. De uma forma triste, te amar me bastava. Hoje pra mim tu virou a lembrança de uma história que, mesmo existindo por alguma meia dúzia de noites ao longo de cinco anos, pra mim significou mais do que qualquer outra que eu escrevi com qualquer outro cara. Porque foi real. Eu era real. Tu era real. Eu ainda guardo no fundo do meu armário um caderno com cartas de amor que eu escrevi para homens que amei de alguma forma. E naquele cemitério de linhas que me lembram barbas por fazer, noites sem dormir, dias mornos e camas bagunçadas, existe uma frase que eu escolhi pra lembrar pra sempre de ti:

A tua dor me dói bem.

 Um beijo.

carta 4 | Tatu Damberg

arte por valeria hernan

Meu amor, antes de ter você na minha vida eu achava que sabia amar. Era cheia de certezas, que quando você chegou sumiram feito pó na areia. Com você junto de mim cada dia que amanhece me dá frio na barriga. Me traz vontade de fazer e ser melhor, de cuidar de você e falar bobagem para você rir. Você me fez enxergar sem filtros. Me obrigou a entender o que sentem meus pais, e hoje eu os amo ainda mais.

Quero estar sempre ao seu lado, passando o que sei sobre a vida, cozinhando seus jantares, emprestando meus dedos para suas contas e ensinando cultura pop inútil, até ser hora de você seguir o seu caminho. E já imagino você nele, forte, crescida, trabalhando com o que gosta (por que nunca deixarei você ficar em um emprego sem sentido) e cuidando da sua casa (para onde irei mandar comida congelada, já que você – apesar de saber – não gosta de cozinhar). Vejo você tendo grandes amores. E quando eles acabarem e seu coração quebrar levarei sorvete e cobertor pro seu sofá. De amor eu não entendo, mas em coração partido sou phd.

Pega na minha mão e vamos. Te amo pequena Alice.

__

Cartas escritas pelos alunos da @agogowriters, escola itinerante com cursos livres de criação em escrita, que muda a vida de todo mundo – inclusive a nossa aqui do time Modices – durante o curso de Cartas de Amor.

__

Que tal pegar todo esse sentimento que tá aí no peito e transformar em cartas de amor para o dia 12 de junho (e para sempre)? Não precisa enviar, não precisa nem ter a quem endereçar, basta derramar amor sobre o papel (ou sobre a tela).

The post Quatro cartas de amor para inspirar o Dia dos Namorados appeared first on Modices.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 122