A aclamadíssima diretora de “Que horas ela volta?” e “Mãe Só Há Uma”, Anna Muylaert, jamais poderia ficar fora da nossa lista de mulheres fodonas.
Anna Muylaert é roteirista, diretora de cinema e uma mulher foda. Quando era criança, Anna queria trabalhar com música, gostava de escrever e tirar fotos. Aos 13 anos, começou a frequentar o Cine Bijou e a partir das grandes obras que eram passadas ali, decidiu que queria fazer cinema (a gente agradece!). Aos 16, entrou na Escola de Comunicações e Artes da USP, mas ao sair da faculdade aos 20 anos (idade que ela considerou nova demais para se jogar no mercado de trabalho), o mercado não foi receptivo com ela.
Entre a vontade de não abandonar o sonho de ser cineasta e a vontade de trabalhar, Anna foi fazendo outras coisas no mundo da comunicação (e fica aqui a dica para todo mundo, nem todos os caminhos são retas, viu?): lançou um livro de poesias, escreveu roteiros (nunca filmados), crítica de cinema para revista e até repórter. Apenas aos 24 anos, Anna fez seu primeiro trabalho na TV como repórter “abelha” para o TV Mix, que era apresentado por Serginho Groisman, de quem ficou amiga. Quando ele foi para a TV Cultura, ela foi junto e lá ela teve a oportunidade de trabalhar, inclusive na criação, de muitos programas que fazem parte da nossa infância. São dela “O castelo Rá-tim-bum”, “Disney Club” e “Um menino muito maluquinho” – programas que praticamente formaram o caráter das crianças do anos 90, não é mesmo?
Vale dizer que o pai de Anna, Roberto Muylaert, foi por 10 anos presidente da TV Cultura, mas ela sempre quis fazer as coisas por mérito próprio, a ponto de não aceitar um cargo oferecido por ele bem no início da carreira.
Depois de anos de trabalho super intenso, Anna tirou um “ano sabático” em que morou em Paraty com os filhos. Esse pequeno retiro, segundo ela, foi uma grande fonte de energia – “poderia subir o Kilimanjaro” – o que explica muito bem a quantidade de coisas que ela fez na volta.
Anna trabalhou em várias séries da HBO, tais como: “Filhos do Carnaval” em 2005 quando foi co-roteirista e colaborou em roteiros da série “Alice” em 2007. Ela também fez o último tratamento no roteiro de “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, filme que levou o prêmio de “Melhor Roteiro” pelo ACIE e pelo Cinema Brazil Grand Prize. Fez parte também do Roteiro de “Quanto Dura o Amor?”e “Xingu”.
Como diretora, chega ser difícil contabilizar as nomeações e prêmios que Anna levou pra casa. Começando por “Durval Discos” (2002) e “É Proibido Fumar” (2009), ambos premiados no Festival de Cinema de Gramados. Dirigiu também “Chamada a Cobrar”, “Que Horas Ela Volta?” que estreou no Sundance Film Festival em 2015, desde seu lançamento – em 22 países- o filme foi aclamado pela crítica e levou o prêmio de “Melhor Filme” no Festival de Berlim. Seu trabalho como diretora mais recente foi “Mãe Só Há Uma”, que foi exibido no Festival de Berlim em 2016. Se você ainda não assistiu nenhum dos filmes da Anna, você precisa! Ela tem um jeito bem especial de jogar verdades na cara de toda uma sociedade e faz a gente refletir sobre aquele assunto. Os filmes dela têm o poder de nos deixar pensando e deixam na gente aquela pulguinha de querer entender mais o lado do outro – mesmo que seja algo muito distante de nós – e isso é o mais especial sobre eles.
Por tudo que ela criou e pela sua longa lista de prêmios, não há como negar que Anna é um poço cheio de sucesso, uma profissional extremamente competente, cineasta com muitos talentos e uma sensibilidade única. Mas é uma mulher em um ambiente dominado pelo poder masculino. Isso significa que, como muitas mulheres da sua posição, Anna ainda é preterida para diversos trabalhos, mesmo depois de uma repercussão surpreendente do filme “Que Horas Ela Volta?”.
“Apesar de tudo isso, parece que ninguém tem uma oferta de trabalho a me fazer. Se eu fosse homem, acho que seria diferente, porque uma mulher que faz sucesso numa área dominada por homens ainda é entendida como uma figura que pode ser perigosa” – disse Anna Muylaert ao G1.
Em entrevista ao G1, quando perguntam se ela acha que o cinema brasileiro ainda falha em representar as mulheres, a resposta dela é exatamente aquilo que falamos há anos:
“Acho que o cinema mundial tem a tendência de representar a mulher a partir de uma visão masculina, ou seja, sempre bela, magra, charmosa, dengosa, frágil etc. Mesmo em filmes super pop, onde o homem é rebelde ou criminoso, as mulheres nunca saem desses padrões descritos acima – e estes padrões não representam a maioria das mulheres.” – AM
“Se você passa a vida se vendo como figuração, é difícil você se tornar protagonista da sua própria vida.” – Contou Ana, nessa entrevista linkada acima.
Anna sabe o poder que tem e sabe o quanto isso é fator de incentivo para outras mulheres e também é fator que incomoda muito homem por aí. Como ela mesma disse, o meio do cinema é extremamente masculino, e representa as mulheres a partir de seus pontos de vista masculinos. E ela está aí colocando dedos nas feridas de toda uma sociedade que vive de olhos fechados para o outro e é cheia de preconceitos.
“É muito mais fácil a sociedade reconhecer o sucesso masculino do que o feminino. Por exemplo, dizem que sou a primeira mulher a representar o Brasil em 30 anos. Porém, a Kátia Lund codirigiu Cidade de Deus (2002) com o Fernando Meirelles, mas ninguém se lembra dela. A Karen Harley dirigiu com a Lucy Walker e o João Jardim oLixo extraordinário (2011), que concorreu ao Oscar na categoria Documentário. De novo, ninguém se lembra delas. Então existe essa ideia de que a mulher pode fazer o trabalho, mas não senta no trono.” – disse Anna em entrevista para TPM.
Para coroar, Anna recentemente foi convocada para a Academia de Ciências Cinematográficas – que atualmente é a responsável por conferir os prêmios do Oscar! – junto a outras mulheres de destaque no cinema internacional como Emma Watson.
Se você conhece mais mulheres incríveis como a Anna, indica aqui pra gente.
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