Na noite de sábado (23), o mundo recebeu mais um presente de Queen B (e a gente ficou só se tremendo). Como já sabíamos (e avisamos lá no nosso Facebook alguns dias antes), seria um filme que muito provavelmente traria o lançamento do seu segundo álbum visual, e assim se concretizou. O lançamento aconteceu com o média-metragem (são 65 minutos) que traz um compilado do que seriam os clipes organizados por capítulos – e é bom assistir com colete a prova de balas porque o tiroteio é certo. Você pode assistir aqui pelo Tidal!
Obviamente esse não é só um filme ou um álbum. O Tidal descreveu o “Lemonade” como um “um projeto conceitual baseado na jornada de autoconhecimento e cura de todas as mulheres”. Como já era de se esperar, na era pós-Formation, o álbum veio com um cunho político e empoderador. É para todas as mulheres como o Tidal disse, mas é especialmente para a mulher negra.
Beyoncé, maravilhosa e poderosa que é, coloca o dedo na ferida dessa sociedade que adora embranquecer a estética e a cultura, trazendo milhares de referências da cultura africana e muita representatividade. A gente insiste que representatividade importa, e importa mesmo! Esse projeto joga na cara de quem ainda duvida do poder da mulher e do poder da mulher negra, e de como ela pode e deve lutar para ocupar seus espaços. Foi durante a música “Don’t Hurt Yourself” que Bey inseriu o trecho de um dos discursos de Malcom X sobre a mulher negra:
“A pessoa mais desrespeitada na América é a mulher negra. A pessoa mais desprotegida na América é a mulher negra. A pessoa mais negligenciada na América é a mulher negra.”
Nesse mesmo capítulo do filme, Beyoncé traz familiares de vítimas mortas pela violência gratuita de uma polícia racista e seletiva. Nos faltam palavras para descrever a cena dessas mulheres segurando as fotos de seus parentes. Não há mais dúvidas de que Bey aproveita toda sua visibilidade e poder de influência para tratar de assuntos e problemas que não podem ser esquecidos. Ela está dando voz para os negros, para as mulheres negras. Ela dá voz para suas raízes, para a resistência. Há em Beyoncé muito mais do que músicas ou clipes pra descer até o chão.
Em “Hold Up” (uma das nossas faixas preferidas do álbum), Beyoncé retrata o abuso emocional e psicológico, todos aqueles “pequenos” abusos que sofremos em nossos relacionamentos com homens. O estereótipo da mulher maluca ciumenta, da mulher negra raivosa (que citamos aqui outro dia), está tudo ali.
Vale dizer que assim como Rihanna em seu último single, Beyoncé mostra que o empoderamento da mulher passa pelos seus relacionamentos, principalmente com homens (e aqui são relacionamentos em geral, não apenas amorosos). Isso porque nossos relacionamento são carregados de pesos sociais, padrões e requisitos a ser cumpridos. Existem ~convenções sociais que determinam nosso comportamento e do outro dentro das nossas relações sociais, e isso pode ser destruidor para muitas mulheres. Mas é papo pra outra hora. ;)
Continuando, na faixa intitulada “Freedom”, Beyoncé clama por liberdade junto a Kendrick Lamar, que por sua vez tem um álbum super aclamado com o mesmo foco e fez aquela apresentação arrepiante no último Grammy. Aqui vai um trecho:
“Freedom! Freedom! I can’t move
Freedom, cut me loose!
Freedom! Freedom! Where are you?
Cause I need freedom too!
I break chains all by myself
Won’t let my freedom rot in hell”
Porque a liberdade ainda é cerceada para muitos, ainda é um privilégio branco e todos precisam entender isso. Beyoncé fez uma obra inteira dedicada à mulher negra e ao empoderamento dessa mulher, não foi à toa, foi para prestarmos atenção. Ela disse sobre o título do álbum e sobre seus planos: ”Meus ancestrais escravizados tomavam limonada achando que isso iria embranquecê-los. A mídia me deu limonada, mas não adiantou.”
O foco é de Lemonade são as tradições, a força, os corpos, a cultura, a beleza, as tradições, os filhos, os relacionamentos e o poder da mulher negra. Ninguém vai embranquecer Bey e mais: vai todo mundo ouvir o que a mulher negra tem a dizer, sim.
Para saber ainda mais sobre Lemonade e tudo que podemos aprender com ele, confere esse post da Luiza Brasil aqui ó!
The post Beyoncé | Já podemos dividir o mundo em antes e depois de Lemonade? appeared first on Modices.