O desafio da curadora Joselia Aguiar era mais diversidade na Flip 2017. Ao homenagear Lima Barreto e aumentar o número de mulheres nas mesas, tudo indicava mudanças. Mas fomos até lá pra ver de pertinho: nossa correspondente Lilian Lima fala sobre os primeiros dias da feira literária, levando o Modices pra dentro da praça central de Paraty.
A literatura como território livre na Flip 2017
A Flip de 2016 se encerrou com críticas. Havia poucas mulheres nas mesas, poucos autores negros, pouca diversidade. Transformar o tradicional evento literário que todos os anos enche as ruelas antigas de Paraty de literatura era o objetivo da jornalista baiana Joselia Aguiar.
Curadoria com sotaque baiano e gosto pelas misturas
Escolhida pro cargo pela trajetória múltipla – que vai do jornalismo cultural à história, passando, claro, pela literatura –, Joselia trouxe também sua vivência na cidade brasileira onde a mistura é parte do DNA: Salvador tem forte cultura local; também gente de todos os lados do mundo. A girar, que maravilha.
Lima Barreto, mais mulheres do que homens nas mesas. Avante!
Pra Flip 2017, a proposta dela foi transformar a cidade em território livre. Bateu firme na escolha de Lima Barreto como escritor homenageado, incluiu mais autores negros entre os destaques (como Marlon James e Paul Beatty, ganhadores do Man Booker Prize). E trouxe pras mesas uma maioria de mulheres: 24 escritoras (essa listinha de peso abaixo) pra 22 nomes masculinos. Uma proposta já bem mais representativa, né?
Adelaide Ivánova ~ Ana Maria Gonçalves ~ Ana Miranda ~ Beatriz Resende ~ Carol Rodrigues ~ Conceição Evaristo ~ Deborah Levy ~ Diamela Eltit ~ Djaimilia Pereira de Almeida ~ Grace Passô ~ Ivanildes Kerexu Pereira ~ Joana Gorjão Henriques ~ Joana Gorjão Henriques ~ Josely Vianna Baptista ~ Laura Maria dos Santos ~ Leila Guerriero ~ Lilia Schwarcz ~ Luciana Hidalgo ~ Maria Valéria Rezende ~ Natalia Borges Polesso ~ Noemi Jaffe ~ Pilar del Río ~ Prisca Agustoni ~ Scholastique Mukasonga
Pra saber como tudo isso tá rolando na prática, nossa correspondente Lilian Lima mandou um boletim fresquinho da Flip 2017. Por áudio, com o burburinho da cidade ao fundo <3
“Nesses dois dias de cobertura, senti que a feira está bem diferente do que já foi. Houve uma diminuição do público e dos eventos paralelos, deixando tudo mais focado no palco principal. É lá que acontecem as mesas. Por outro lado, a feira tomou a praça central de Paraty – e dá pra dizer que, assim, o evento está aproveitando mais a cidade.
O palco principal, por exemplo, foi montado em plena Igreja Nossa Senhora dos Remédios. É incrível ver as discussões literárias acontecendo lá dentro. Os debates, aliás, estão bem quentes, especialmente levando em conta as questões políticas do Rio de Janeiro.
Isso porque Lima Barreto, o homenageado, é um escritor muito atual. Todos os participantes das mesas reforçam isso. As reportagens que ele fazia no início do século passado, falando sobre as minorias, a corrupção e o cenário político seguem muito vivas.
A Flip 2017 também é das mulheres. Em várias mesas, elas estão mediando, falando sobre seus livros e sobre questões femininas. Isso é realmente muito mais forte do que nos anos anteriores:
A presença feminina na Flip 2017 é firme e concreta. Não é uma presença pra fazer número.
É uma Flip mais compacta, mas muito forte. Quem que já veio outras vezes sente a mesma coisa: está mais voltada às pessoas. O espaço do telão na área central abraçou a praça – os autores e as mesas (sempre lotadas) estão mais próximas do público, que acompanha as discussões com muita atenção.”
Pra visitar sábado e domingo: uma programação só de mulheres em Paraty, organizada pelo Mulheres que Escrevem:
Sábado, 29/7
- 10h00 | Programação FlipZona 2017 | Casa da Cultura | Páginas anônimas com participação de Maria Isabel Iorio. Poesia – a literatura que o Brasil faz e você desconhece. Mediação: Bianca Ramoneda.
- 11h00 | Programação SESC Paraty | Centro Cultural SESC Paraty | Café Literário com participação de Cristiane Costa. De Colagens & Tretas.
- 11h00 | Programação Encontros Malê em Paraty | Casa Malê | Rodas de conversa e sessão de autógrafos com Cristiane Sobral, Miriam Alves e Taís Espírito Santo. Coletânea de contos e crônicas Olhos de azeviche.
- 12h00 | Programação Oficial | Auditório da Matriz | Mesa 12 | Foras de série com participação de Ana Miranda. Personagens singulares da história e da literatura brasileiras, como ex-escravos que triunfaram e mulheres revolucionárias no Brasil do século 19, permeiam um debate sobre vozes dissonantes e as técnicas de pesquisa e escrita. Mediação: Lilia Schwarcz.
- 12h00 | Programação FlipZona 2017 | Casa da Cultura | Mesa literária com participação de Fernanda Torres e Maria Camargo: Assista a esse livro.
- 12h00 | Programação Casa Libre | Casa Libre e Nuvem de Livros | Lançamento do livro Transfeminismo – teoria & prática e homofobia – identificar e prevenir (Ed. Metanóia), de Jaqueline Gomes de Jesus.
- 14h00 | Programação Casa Libre | Casa Libre e Nuvem de Livros | Lançamento do livro Negro amor (Ed. Malê), de Cristiane Sobral.
- 15h00 | Programação Oficial | Auditório da Matriz | Mesa 13 | Kanguei no maiki — Peguei no microfone + Fruto estranho com Adelaide Ivánova e Maria Valéria Rezende: O ativismo e a literatura – ao gosto de Lima Barreto – , a resistência e a liberdade.
- 15h00 | Programação Casa Amado e Saramago | Invisível centena: lançamento do catálogo Intelectuais Negras Visíveis com Amanda Sanches (UFRJ), Giovana Xavier (UFRJ), Janete Santos Ribeiro (ISERJ) e Núbia Santos (UFRJ). Apresentação por Djamila Ribeiro.
- 16h00 | Programação Encontros Malê em Paraty | Casa Malê | Conversa com participação de Lu Bento: O papel das diferenças.
- 16h00 | Programação Off Flip | Casa da Porta Amarela | Roda de conversa Editoras para todos com Lizandra Magon.
- 16h15 | Programação FlipZona 2017 | Casa da Cultura | Mesa Literária com Beatriz Resende, Gabriela Moura e Jaqueline Gomes de Jesus: Corpo — artigo indefinido. Mediação: Bianca Ramoneda.
- 16h30 | Programação Paratodos | Casa Paratodos | Bate-papo Corpo, voz e memória e lançamento dos livros A mulher de pés descalços e Nossa Senhora do Nilo (Editora Nós) de Scholastique Mukasonga com mediação de Simone Paulino.
- 17h00 | Programação Casa Amado e Saramago | O que se vê, o que se sente: Ana Kiffer, Giovana Xavier e Joana Gorjão Henriques. Conversa sobre racismo e empoderamento com moderação de Anabela Mota Ribeiro.
- 18h00 | Programação Casa Libre | Casa Libre e Nuvem de Livros | Experiência e leitura com participação de Conceição Evaristo e mediação de Simone Magno.
- 18h00 | Programação Museu da Língua Portuguesa | Casa da Música | Debate com Noemi Jaffe, Paula Fábrio e Adelaide Ivánova: Pessoa Futura . Reflexão sobre a relação entre um possível projeto de superação das angústias do nosso tempo e o feminismo contemporâneo.
- 18h30 | Programação Paratodos | Casa Paratodos | Lançamento do livro O amor e outras brutalidades (Editora Hedra) de Anna P.
- 19h00 | Programação Selo Off Flip de Literatura | Centro Cultural Sesc Paraty | Premiação dos vencedores do Prêmio Off Flip de Literatura com Estela Rosa (poesia) e Pepita Sampaio Cardoso Sequito (literatura infantil). Com presença de Conceição Evaristo.
- 19h00 | Programação Casa Amado e Saramago | Lançamento do livro de poesia Como se fosse a casa, de Ana Martins Marques e Eduardo Jorge.
- 19h00 | Programação Encontros Malê em Paraty | Casa Malê | Roda de conversa e sessão de autógrafos do livro Esboços de um tempo presente com Rosane Borges: Jornalismo e literatura.
- 20h00 | Programação Casa Libre | Casa Libre e Nuvem de Livros | Relançamento dos livros Ponciá Vicêncio e Becos da memória (Ed. Pallas) de Conceição Evaristo + Lançamento da cerveja Conceição Evaristo.
- 20h00 | Programação Encontros Malê em Paraty | Casa Malê | Lançamento do livro Dia bonito pra chover de Lívia Natália.
Domingo, 30/07
- 10h00 | Território Flip/Flipinha | Auditório da Praça | Todas as idades com Ana Miranda e Maria Valéria Rezende.
- 10h30 | Programação Encontros Malê em Paraty | Casa Malê |
Cartas para Carolina. Leituras e conversas sobre a obra de Carolina Maria de Jesus com participação da escritora Jarid Arraes. A atriz Maria Gal interpretará trechos da obra Quarto de despejo. - 11h00 | Programação SESC Paraty | Centro Cultural SESC Paraty | Café Literário com Lucia Hiratsuka. A infância de todas as idades, com mediação de Verônica Lessa.
- 11h00 | Programação Casa Santa Rita da Cassia | Lançamento com participação de JC Ponzi, Gisele Mirabai, Tatiana Amaral, Etel Frota, Adriana Sydor, Catia Mourão e Cinthia Zagatto.
- 11h00 | Programação Paratodos | Casa Paratodos | Relançamento do livro Sem vista para o mar (Selo Edith) de Carol Rodrigues.
- 12h00 | Programação Oficial | Auditório da Matriz | Mesa 17 | Amadas com Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo. Tributo a vozes femininas africanas e da diáspora negra, como Angela Davis, Audre Lorde, Carolina de Jesus, Josefina Herrera, Nina Simone, Noêmia de Sousa, Odete Semedo, Paulina Chiziane e Toni Morrison.
- 13h00 | Programação SESC Paraty | Casa SESC | Mesa Intercâmbios da Língua Portuguesa com Rita Chaves e Susana Ramos Ventura.
- 14h00 | Programação SESC Paraty | Centro Cultural SESC Paraty | Café Literário com participação de Cida Pedrosa. O Sertão Reinventado.
- 15h00 | Programação Oficial | Auditório da Matriz | Mesa 18 | Livro de cabeceira com participação de Ana Miranda, Djaimilia Pereira de Almeida e Scholastique Mukasonga. Na sessão de despedida da Flip, conduzida tradicionalmente por Liz Calder, autores convidados leem trechos de seus livros prediletos.
>> Confira a programação completa, assim como a cobertura das mesas (tem transmissão online de tudo!), no site oficial da Flip 2017.
>> A cobertura do Modices na Flip 2017 tá a mil no Instagram, já viu? Então corre pro nosso Stories, que no @modices tem sempre os destaques do dia. Ah, e marca #modicesinspira se estiver em Paraty. Vamos adorar ver o seu olhar sobre a feira!
este Modices na Flip 2017: mais diversidade e mais mulheres? Fomos lá investigar na real é um conteúdo original Modices.