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Por que você precisa assistir Big Little Lies, a mini-série da HBO

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Precisamos de mulheres em filmes e séries que estejam além dos clichês, principalmente aqueles construídos pelo olhar masculino.

Big Little Lies da HBO é uma das séries mais surpreendentes que já passou pela TV e a gente te conta um dos motivos principais: o relacionamento entre mulheres.

Precisamos de mulheres em filmes e séries que estejam além dos clichês, principalmente aqueles construídos pelo olhar masculino.

Toda vez que eu falo sobre a representação das mulheres no cinema e na televisão/streaming ocidental, eu insisto em dizer que precisamos de personagens mais complexas e com camadas mais profundas de personalidade. Isso quer dizer que precisamos de mulheres em filmes e séries que estejam além dos clichês, principalmente aqueles construídos pelo olhar masculino.

Por isso, a gente vive falando de Shonda Rhimes por aqui. Especialista em criar personagens mulheres que passam longe dos estereótipos femininos, Shonda escreveu mulheres de todos os tipos: mães, assassinas, perturbadas, brilhantes, independentes, mal resolvidas, bem resolvidas, incoerentes, difíceis, fortes, fracas… Isso sem contar que em Shondaland (como é chamado o horário nobre onde passam as suas séries) atrizes gordas/negras/asiáticas/latinas/bonitas/feias não fazem papéis de mulheres gordas/negras/asiáticas/latinas/bonitas/feias e sim, papéis de mulheres e ponto.

Pra mim, Shonda mostrou ao mundo produtor de séries e filmes (mais especificamente aos homens que tomam decisão sobre o que vai receber financiamento para ser produzido) que é possível fazer séries de sucesso e de qualidade espetacular falando sobre mulheres e sobre a relação entre mulheres. É possível falar de como é ser mulher no mundo sem falar sobre compras, frivolidades e sem romantizar a dependência emocional pelo sexo masculino.

Precisamos de mulheres em filmes e séries que estejam além dos clichês, principalmente aqueles construídos pelo olhar masculino.

E aí, veio Big Little Lies. A mini-série da HBO, com um elenco estreladíssimo, chegou com uma sinopse intrigante (pra mim) mas que pra muita gente pareceu uma besteira: “uma série sobre mães de crianças da primeira série com vidas aparentemente perfeitas que desenredam em um assassinato”. Muita gente nem daria uma chance para uma série sobre um grupo de mães, que gira em torno do relacionamento entre elas. Mas aí acontece a mágica da posição de privilégio bem usada. A série é da HBO, com Reese Witherspoon, Nicole Kidman e Shailene Woodley (e Zoë Kravitz), passando num horário nobre da TV a cabo. Ufa, as pessoas assistiram.

As pessoas puderam assistir uma série sobre a amizade entre mulheres, mais real e verdadeira possível. Uma história sobre comunidade, sobre mulheres diferentes, de personalidades diferentes, objetivos diferentes e que foram afetadas pela vida/maternidade/relacionamentos/tempo de formas distintas. Uma série que surpreende porque, à primeira vista e de acordo com os nossa própria concepção sobre “aquele tipo de gente“, temos a impressão de saber exatamente como são aquelas pessoas – e tudo isso vai sendo desconstruído ali na sua frente, de forma crua.

Não, Big Little Lies não é uma série ~feminista e nem se propõe a ser. Faz parte da trama da mini-série, baseada no livro de Liane Moriarty, a competição, a inveja e o ciúme entre mulheres (e entre homens também, diga-se de passagem). Mas é uma série sobre sororidade, sobre como você não precisar amar outra mulher (e nem gostar dela) para estar ao lado e dar a mão quando ela precisa. É sim, uma série que fala de problemas dolorosos da comunidade feminina de forma franca e profunda: estupro, abusos físicos e psicológicos, maternidade, carreira e os homens como figuras ameaçadoras e parceiras.

Nós mulheres, sabemos que todas essas coisas fazem parte da nossa vida e como, muitas vezes, eles são normalizados pela sociedade, a ponto de serem questões com as quais a gente convive desde sempre, assim como todas as mulheres ao nosso redor. Nós mulheres também sabemos como criamos recursos e comunidades de apoio que nos permitem expor nossas dores em espaços seguros – já que a sociedade tem dificuldade de aceitá-las. E é muito esperançoso ver nossas histórias contadas de uma forma especial e interessante a todos os olhares.

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