Foi escrevendo o post sobre as novas bases do mercado – e a pouca variedade de tons de maquiagem para peles mais escuras (menos claras, na verdade) – que nos lembramos de uma das obras mais interessantes de uma das mulheres mais fodonas desse Brasil. Adriana Varejão, artista plástica contemporânea e uma das mais bem-sucedidas do mercado (inclusive internacional), é criadora da obra Polvo, que aborda de forma inteligentíssima a variedade de tons de pele do nosso país super miscigenado.
Adriana Varejão é nossa segunda personagem da série de posts “Mulheres Fodonas” (você confere o primeiro post aqui). A brasileira tem no currículo exposições por grandes centros de artes do mundo como Londres, Nova Iorque, Lisboa e por aí vai, usando os azulejos como matéria-prima principal e tendo como inspiração desde os botequins cariocas aos banheiros públicos europeus.
Em entrevista para a TRIP, Adriana conta que sempre se interessou sobre a discussão de raça no Brasil e, por isso, a obra Polvo traz a magia de toda a mistura que temos em terra tupiniquins. O processo de produção da obra começou com a descoberta de uma pesquisa do IBGE de 1976 onde a pergunta era “qual é a sua cor?”. Na época, foram 136 respostas com “nomes” inusitados que as pessoas usaram para se autodefinir como “branquinha”, “morena-bem-chegada”, “morena-jambo”, “queimada de praia”, “cor-de-ouro”, “puxa-para-branco” entre muitos outros. Essas denominações trazem um conteúdo quase poético, mas podem ser facilmente problematizadas como uma política de silenciamento onde as pessoas se sentem mais à vontade ou querem se entender de pele clara, devido a toda opressão que sofrem.
Para o projeto de Polvo, foram usadas tintas especialmente pensadas e fabricadas a partir dessas definições dadas pelo povo e fungindo totalmente do que chamam comumente de “cor de pele” – já reparou que tanto as tintas quanto os lápis de cor trazem como “cor de pele” um rosinha bem claro que não representa a cor de ninguém, pelo menos por aqui?
A partir de toda essa variedade de tons, Adriana escolheu 33 nomes dessa pesquisa do IBGE e criou 33 bisnagas de tinta. A obra Polvo é um conjunto de 33 tintas, com 33 retratos da própria artista – que não são autorretratos, pois foram encomendados a outro pintor – e esses retratos sofrem a interferência dessas cores. Para completar a obra, são expostas 12 cartelas de cores usadas pela artista.
Bem que as marcas de beleza também poderiam levar em consideração toda essa miscigenação e cartela de cores que temos nesse Brasil, não é mesmo? Já passou da hora!
Além desse seu projeto, Adriana não para por aí. Ela é apaixonada por antropologia e essa paixão a motivou a escrever um livro com a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, intitulado Pérola Imperfeita. O livro aborda temas como a miscigenação e a colonização europeia na América. É uma reflexão entre a história e a arte. Esse não é seu único trabalho literário e Polvo também não é sua única obra artística, então vale ficar de olho nos seus projetos anteriores e nos que estão por vir.
Mais uma vez é importante enaltecer que Adriana Varejão é uma das artistas mais valorizadas nacional e internacionalmente e esse é um passo muito importante para as futuras artistas que virão. É inspiração e força para quem pretende seguir o caminho das artes e até para quem quer conhecer mulheres incríveis como essa.
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